sábado, 7 de março de 2009

A primeira vez - para 8 de março

Um 8 de março.

No dia 8 de março de 1857, as mulheres que trabalhavam na Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque, fizeram uma paralisação, uma greve, manifestando o descontentamento com as condições de trabalho a que estavam submetidas.

Os donos da fábrica fecharam as portas e incendiaram o prédio, matando 129 mulheres.
Umas eram órfãs, outras tinham namorados. Umas não tinham muito estudo, outras eram muito inteligentes. Umas sabiam dançar, outras não gostavam de música. Umas apanhavam do marido, outras sabiam fazer valer seus direitos. Umas tinham filhos, outras não podiam ter. Umas eram briguentas, outras eram doces. Umas sonhavam com um grande amor, outras não queriam saber de homem. Umas estavam acima do peso, outras eram muito magras. Umas tomavam cuidado para não engravidarem, outras fizeram aborto. Umas queriam chegar aos 90 anos, outras queriam viver apenas enquanto fossem jovens. Umas tinham pesadelos à noite, outras sonhavam e sonhavam com um mundo onde pudessem viver sem competir com os homens.


Eram mulheres com diferenças entre si. Mas todas eram mulheres. Como nós. Temos diferenças, mas somos mulheres.

Que tal uma reflexão, uns minutos para pensarmos sobre o que quer dizer isso, 129 mulheres presas num local para onde saíram de casa a trabalho e não voltaram?

Há tantas mulheres-frutas hoje! Frutas para serem consumidas pela mídia, por homens e revistas. Trancadas numa fábrica de mulheres-frutas.
Frutas apodrecem, perdem seu valor nutritivo. Isso não acontece com mulheres.
Mulheres não apodrecem.
Mulheres cheiram a perfumes de mulheres.
Mulheres amadurecem e tornam-se adultas, mães, avós, bisavós, tias, madrinhas, amigas, esposas. Mulheres não perdem seus valores nutricionais.
Mulheres são nutridas por inteligência, por doçura, por afeto, por liberdade, por beleza, por franqueza, por amor, por garra, por sonhos.

Por respeito às 129 mulheres que morreram queimadas e a tantas outras milhares que, queimadas como bruxas, como pecadoras, apedrejadas, impedidas de estudarem, oprimidas por seus pais e esposos, por igrejas, trancadas em fábricas, casas, hospitais, mulheres que transgrediram, que reivindicaram, que lutaram, que floresceram, por todas elas, que abriram caminho para mim, em respeito a elas, não serei uma mulher-fruta. Não apodrecerei nem perderei meus valores.

E hoje, véspera de 8 de março, na criação deste blog, meu primeiro uso da palavra sai como num parto.

Um beijo em quem fizer um bom uso da palavra.
E um 8 de março de 2009 melhor que o de 1857. Para todos, mulheres e homens.

[kelva cristina, "fonofemme"]